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Fachada do Giovannetti do Rosário. Foto: Amanda Furlan

Giovannetti do Rosário: chopp, cultura e psicologia

Com 81 anos, bar localizado no centro da cidade coleciona prêmios e histórias 

Por Amanda Furlan

         A história de Campinas e a do Giovannetti se fundem a partir do fim da década de 30. Instalado no coração da cidade, o bar colaborou com o fortalecimento do comércio local e ajudou na sua consolidação como um centro mais urbanizado. O restaurante fica localizado na Rua General Osório, no centro da cidade, local mantido desde sua fundação, em 1937. Com 81 anos, o restaurante é um dos mais antigos e tradicionais de Campinas e hoje possui outras unidades no Cambuí e no Shopping Dom Pedro.

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        O PASSADO

        O bar foi fundado pelo imigrante italiano Enrico

Giovannetti e sua esposa Dona Helena. Enrico trabalhava

numa fábrica de cerveja chamada Cabeça de Cavalo, na

região central da cidade. Quando o dono da fábrica faleceu,

Enrico conheceu a viúva, Helena, com quem veio a se casar

e, posteriormente, abrir o bar.

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          Na década de 30, Helena era a única mulher que

frequentava o Giovannetti. Ela arrumava as mesas, lavava as

louças e os copos, preparava os salgados em casa e os levava

ao estabelecimento em cestas e depois ia embora para que os

homens da família pudessem assumir. Tita, a nora de Helena

Giovannetti, ganhou a fama de ter “mãos de fada” e

colaborar com a produção dos salgados que fizeram a fama do bar.

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          A história do Giovannetti surgiu com Enrico, mas foi levada adiante por sua mulher e filhos depois de sua morte – principalmente Waldomiro, conhecido como Piné. Após o falecimento de Helena, a família optou por vender o estabelecimento para um garçom da casa. Posteriormente, outros cinco proprietários sucederam-se, mas, a expansão da marca com a abertura de novas unidades teve início em 1981, com a aquisição do bar pelos atuais proprietários, um grupo de empresários portugueses.

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          A escolha do nome Giovannetti para o bar é inspirado no sobrenome da família que deu origem ao bar, mas também tem a mesma raiz que o termo “muito jovem” em italiano. O nome sempre evoca sua origem: o sonho de um jovem imigrante italiano que veio ao Novo Mundo em busca de uma vida melhor.

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          Assim como antigamente, ainda é possível apreciar um chopp e um aperitivo no balcão. Atualmente, são consumidos, em média, 40 mil litros de chopp nas três unidades. No Giovannetti, cada pires sobre a mesa representa um copo da bebida consumido pelo cliente.

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O fundador Enrico Giovannetti. Foto: Acervo

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O balcão do bar antigamente e, ao lado, atualmente, onde ainda é possível apreciar um chopp e um aperitivo. Fotos: Acervo/ Amanda Furlan

         O famoso lanche boquinha de anjo, que hoje é normalmente encontrado em diversos bares e restaurantes, surgiu no Giovannetti do Rosário. O corte foi criado em 1960 pelo chapeiro Moleza, na época em que as mulheres começaram a frequentar o bar, e recebeu esse nome pelo fato de o pão francês ser dividido em oito pequenas partes iguais, que até um anjo conseguiria comer.

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         O GIOVANNETTI HOJE

         E quem hoje entende desse lanche é o gerente do Giovanetti do Rosário Genilson Urcino. Há 24 anos trabalhando na casa, ele já passou pelas funções de ajudante de cozinha, pizzaiolo, lancheiro, pasteleiro, caixa e garçom. No entanto, preparar os famosos sanduíches sempre foi sua atividade preferida. "Eu gosto muito de trabalhar na lancheira, porque você tem uma produção final muito bonita, você embeleza os olhos do clientes. Quando você olha o prato muito bem feito, bem montado, é orgulhoso", declara. 

         

         

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         Segundo Urcino, o lanche mais vendido da casa é o Psicodélico, que leva no recheio frios fatiados. Mas os preferidos do gerente são o Sharp e o Casal 20. De acordo com ele, só na casa do Rosário são vendidos em média 100 sanduíches por dia. 

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         Outro ponto forte do bar é o chopp. Em um domingo, por exemplo, Urcino conta que são vendidos cerca de 8 barris, o que dá mais de 1000 copos de chopp. 

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         Além dos lanches e do chopp, o gerente faz questão de lembrar dos tradicionais salgados da casa. "Sempre ganhamos prêmios como melhor sanduíche, melhor chopp, melhor 

                 

     

         

         

Genilson Urcino, gerente do Giovannetti do Rosário. Foto: Amanda Furlan

salgado. Aqui somos o campeão nesses quesitos", conta. O restaurante é dono do título de melhor cozinha de bar de Campinas pela revista Veja, concedido esse ano.

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        Apesar de servir os salgados nas três unidades do Giovannetti, a casa do Rosário é a única que mantém a tradição de chamá-los pelos apelidos, uma cobrança dos atuais donos. "Aqui nós temos ícones que não podem ser esquecidos, como os nossos apelidos dos salgados. Você está lá no fundo e o cliente fala assim 'me dá uma rolha', rolha é um croquete. Nas outras casas, que tem mais glamour, o pessoal não usa muito esse termo, é croquete mesmo", relata Urcino.

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        Quem faz questão de apreciar os tradicionais aperitivos do bar é o aposentado Pedro Gomes, de 72 anos. "Moro aqui no centro e sempre frequentei o Giovannetti", fala, comendo um pastel de carne, em pé mesmo, no balcão.

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Com jeito de boteco, clientes consomem direto no balcão. Foto: Amanda Furlan

         O prédio em que fica localizado o restaurante é anterior a sua fundação e, de acordo com o gerente, passou por duas reformas ao longo do período em que ele trabalha lá: uma em 1996 e outra mais recente, em 2016. A unidade do Rosário comporta 70 clientes por vez e conta hoje com 32 funcionários, entre funções como garçom, caixa, higiene e cozinha.

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          Um desses funcionários é o garçom Fábio Aparecido da Silva, mais conhecido como Japa. Ele começou a trabalhar no Giovannetti do Shopping Dom Pedro e está há 6 anos trabalhando na casa do Rosário. Para ele, trabalhar na unidade mais antiga tem seus diferenciais. “Eu gosto de trabalhar aqui, porque o ambiente é gostoso e todos são companheiros, um sempre ajuda o outro”, conta. Além disso, ele acredita que a tradição do Giovannetti é o principal atrativo de clientes nessa unidade.

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          Quem pode falar de tradição com propriedade é o Luiz Rodrigues dos 

Largo do Rosário, praça localizada em frente ao bar. Foto: Amanda Furlan

Santos, hoje o funcionário mais antigo do Giovannetti. Ele trabalha há 34 anos no local, todos os dias, das 17 horas até o bar fechar, e sempre como garçom, função que ele não trocaria por nenhuma outra. "Eu gosto de tudo aqui, principalmente do público. Sempre gostei de trabalhar com o público, gosto muito do que eu faço, da minha profissão", relata.

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        Outro veterano da casa é o garçom Denival Barbosa, que está lá há aproximadamente 20 anos. Ele é o segundo funcionário mais antigo do bar e conta que a relação com o público é um dos diferenciais de lá. "O que atrai tantos clientes aqui é a qualidade dos produtos, mas principalmente o atendimento. Aqui a relação de cliente e funcionário é muito legal, muito boa", afirma. 

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O garçom Denival Barbosa, segundo funcionário mais antigo da casa. Foto: Amanda Furlan

       Com tantos anos de experiência, o gerente Genilson Urcino coleciona uma série de histórias que aconteceram no bar. "História de boteco todo dia tem uma. O bar também é cultura, tanto para quem frequenta quanto para quem trabalha nele", afirma. Segundo ele, há clientes que se conheceram no Giovannetti e hoje são casados e até aqueles que vinham no bar quando namoravam e atualmente ainda frequentam, trazendo seus filhos também. 

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        No entanto, nem sempre as histórias são alegres. "A gente testemunha tanta coisa aqui que você nem imagina, tanto o lado positivo, quanto o lado negativo", conta. "Tem gente que vem só pra desabafar com você e você tem que ouvir. Tem gente que está numa situação ruim e tem que beber para acalmar o que ele está sentindo. A gente tem que ouvir", relata. "Você acaba tendo que ser um psicólogo de certa forma", complementa.

No Giovannetti, cada pires representa um chopp consumido. Foto: Amanda Furlan

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Interior do Giovannetti do Rosário e, à direita, a vista para a cozinha. Fotos: Amanda Furlan

       ECONOMIA  

       O Giovannetti faz parte do segmento de bares e restaurantes, um dos três principais tipos de estabelecimento do setor de alimentação que registraram expansão em 2017, em comparação ao ano anterior, segundo estimativa da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC). A cidade possuía 3690 bares e restaurantes em 2016 e, de acordo com a estimativa, passou para 3702, o que representa um aumento de 0,33%. O faturamento desses estabelecimentos também aumentou. Passou de R$5.313,60 em 2016 para estimados R$5.410,80 em 2017, 1,83% maior do que no ano anterior.

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          Outros segmentos que apresentaram um aumento no número de unidades foi o de fast foods, que passou de 265 para 275 estabelecimentos, e o de pizzarias, que possuía 530 unidades e passou para 545. Já o número de churrascarias na cidade teve uma diminuição de 2,63%, passando de 190 unidades para 185. Redução maior foi no número de panificadoras. Segundo a estimativa, o segmento apresentou uma diminuição de 4,13%, passando de 605 para 580 estabelecimentos. Apesar dos déficits, todos os segmentos apresentaram aumento no faturamento.

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Infográfico: Amanda Furlan

SERVIÇO:

Giovannetti Rosário

Onde: General Osório, 1059, Centro - Campinas

Horário: Domingo a quarta, das 9h às 00h / Quinta, das 9h às 00:30h/ Sexta, sábado e feriados, das 9h à 1h

Telefone: (19) 3231-2830

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